
João Carlos é o atual presidente do trabalho ali desenvolvido, o qual é denominado Missão Cena (Comunidade Evangélica Nova Aurora) e é financiado por igrejas e uma instituição Luterana Alemã. O trabalho começou a ser realizado em 1987 na Rua Aurora da cidade de São Paulo e permanece até hoje na Rua Euvétia Gusmões e Guaianazes. A missão tem como objetivo atender à população de rua, crianças de pré- rua, atendimento jurídico, odontológico, alfabetização de adultos, distribuição de comida e disponibilização de lugares para banho contando com apoio espiritual e cultos. Depois de dois anos de seminário em Campo Morão, Paraná, João Carlos decidiu que dedicaria sua vida e seu saber para ajudar ao próximo e aceitou o convite de estar à frente do trabalho.
O trabalho reúne 40 voluntários, 22 trabalhadores e um grande número de ajudados. Ele conta que desde criança seus pais eram exemplo de solidariedade, abrigando pessoas de rua ou abandonadas em sua casa dando-lhes apoio, comida e o que vestir. Com uma grande indignação ele conta que se sensibilizou pelo trabalho ao perceber que o governo nada fazia para solucionar ou melhorar a situação em que se encontrava o local. ”Se o governo não pode fazer, eu vou fazer” disse ele. Durante todo a entrevista ele deixou claro que a mídia e o governo em nada ajudam para o desenvolvimento do trabalho, pelo contrário, a mídia procura apenas o marketing e o governo que se diz ajudar, se preocupa apenas com o dinheiro que ali é investido. Descaso, promessas, cartões de créditos ilimitados, e carros. Papéis de vilões disfarçados em mocinhos. “Nós não precisamos da ajuda deles, em 14 anos que eu trabalho na Cracolândia, nunca faltou nada, seja comida, seja roupa.”, disse.
João Carlos é sustentado pelas igrejas para desenvolver o trabalho na Cracolândia. Com muita satisfação ele menciona nomes e nos conta história de vidas ali transformadas. Pessoas que, sem a ajuda do projeto não teriam a mínima condição de mudarem o trajeto das suas vidas e terem sonhos e planos futuros. Com um tom de voz baixo, ele diz que o crack não poupa ninguém, e cada dia que passa ele faz mais vítimas. Dependente dele estão crianças, jovens e adultos. “O crack não escolhe idade nem classe social, e se não tomarmos cuidado, a Cracolândia vai tomar São Paulo”.
O tempo se encerra. Ele finaliza sua fala com aplausos, um exemplo de história e um apelo à sociedade: que desperte para o problema que estamos vivendo e se empenhe em buscar estratégias eficazes em combate ao problema que a cada dia cresce assustadoramente na porta de nossas casas.